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A União dos Sindicatos do Norte Alentejano nascida formalmente como União dos Sindicatos do Distrito de Portalegre no Plenário de Sindicatos reunido a 4 de Julho de 1975, na delegação do Sindicato dos Bancários e que aprovou os seus estatutos, é de facto a herdeira legítima do riquíssimo passado de luta dos trabalhadores do distrito de Portalegre.
Embora o desenvolvimento industrial não tenha chegado muito rapidamente ao distrito estão já muito distantes as datas da fundação das primeiras organizações de trabalhadores, sinal de que desde muito cedo, a classe operária do distrito começou a romper com as formas de organização mutualista e a trabalhar para a criação de associações de classe.
A primeira tentativa coube aos corticeiros em dezembro de 1891, na sequência de uma crise de trabalho motivada pelas restrições à importação de cortiça, por vários países estrangeiros e que levava à redução da semana de trabalho para apenas 3 dias.
A 6 de Abril de 1904 novamente os operários corticeiros aprovam os estatutos do seu sindicato e abriram na rua do Pirão, no nº 15, aquela que viria a ser a primeira sede sindical aberta em todo o distrito.
Em 1908 constituiu-se a Associação de Classe dos Empregados do Comércio e Indústria onde predominavam os caixeiros e que em Outubro do ano seguinte promovem diversas acções exigindo o descanso semanal.
Em 1909 surge a Associação dos Compositores e Impressores. Mas é a partir da proclamação da Republica que, também aqui, o operariado consolida o caminho da sua própria organização.
Logo em Dezembro de 1910 é constituída a Associação de Classe dos Manufactores de Calçado e renasce a Associação de Classe dos Corticeiros.
Também o operariado agrícola começa a movimentar-se. Ainda em 1910 organiza duas greves, parcialmente vitoriosas, em Cabeço de Vide e Arronches.
Em Janeiro de 1912 é fundada a Associação dos Alvanéus e em Maio é a vez da Associação de Classe dos Trabalhadores Rurais de Portalegre.
Ainda nesse ano é constituído o Sindicato dos Rurais de Elvas no seguimento de inúmeras acções de protesto e greves realizadas em Barbacena e Elvas tendo, então, Barbacena sido ocupada por uma força de cavalaria de Elvas.
Em 1912 realiza-se em Évora, o 1º Congresso das Associações de Classe dos Rurais, com a participação de associações do distrito. Estão já constituídas e funcionam as associações de trabalhadores rurais de Barbacena, Terrugem, Avis, Castelo de Vide, Santa Eulália, S. Vicente, Elvas, Arronches e Portalegre.
No ano seguinte, em Fevereiro é constituída a Associação de Classe dos Carpinteiros, em 1915 forma-se a Liga das Artes Gráficas e em 1916 a Associação de Classe dos Manipuladores do Pão.
A acção destas associações desenvolvia-se frequentemente de forma concertada. Eram normais as reuniões inter-direcções e a realização de iniciativas conjuntas.
Exemplos da acção desenvolvida pelo movimento sindical da região são as importantes greves ocorridas na Corticeira dos Robinson, as inúmeras greves de trabalhadores rurais iniciadas com as greves dos rurais em Cabeço de Vide e Arronches, ainda em 2010 e que teve o seu ponto alto com a greve vitoriosa dos rurais de Castelo de Vide em Outubro de 2011, a manifestação, em Portalegre, de solidariedade com os rurais de Évora, brutalmente reprimidos pela GNR e que levaria à prisão de oito dirigentes sindicais e as campanhas contra a carestia do pão que culminaram com uma grande manifestação em Portalegre no ano de 1919.
O 28 de Maio estrangulou a vida dessas associações ao impor pela força o Estatuto do Trabalho (fascista) que liquidou os sindicatos independentes e criou os “sindicatos” nacionais fabricados à imagem e semelhança do Estado Novo mas não parou a luta dos trabalhadores do distrito.
Exemplos disso são as lutas verificadas durante o fascismo na empresa Robinson, na Metalúrgica do Crato, na Lanifícios e as lutas poderosíssimas do proletariado agrícola em todo o distrito e ao longo dos anos mas que teve particular acuidade quando da luta, travada e vencida, pelas 8 horas de trabalho diário.
O 25 de Abril veio encontrar, também no distrito, sindicatos libertos do poder corporativo.
O então Sindicato dos Lanifícios de Lisboa, que aqui representa os trabalhadores da Fino’s, o Sindicato dos Bancários de Lisboa com delegação aberta em Portalegre tem à sua frente direcções da confiança dos trabalhadores e então já integradas na INTERSINDICAL. Apoiados nessas associações os trabalhadores do distrito lançam-se de imediato à conquista dos seus sindicatos expulsando as direcções fascistas e elegendo direcções da sua confiança. Primeiro no então Sindicato dos Caixeiros e Empregados de Escritório, depois no Sindicato dos Operários Corticeiros, nos Motoristas Rodoviários e nos Metalúrgicos.
Entretanto os operários agrícolas do distrito lançam um poderosíssimo movimento organizativo que aldeia a aldeia criou as estruturas que vieram a dar corpo ao Sindicato dos Operários Agrícolas do Distrito de Portalegre com quase 20 mil associados.
As reuniões inter-direcções sindicais eram frequentes. Muitas das acções realizadas e em especial as comemorações do 1º de Maio que tiveram lugar em todo o distrito organizavam-se de forma concertada.
A União dos Sindicatos de Portalegre que já em 1912 fora tentada era agora uma realidade apesar de só em Julho de 1975 ser formalmente constituída.
Por todo este historial de luta no distrito a União dos Sindicatos do Distrito de Portalegre assumiu-se orgulhosamente, desde a primeira hora da sua existência, como herdeira de todo este riquíssimo passado de luta dos trabalhadores do Norte Alentejano e logo na assembleia constituinte, realizada na delegação dos Bancários na Praceta, em Portalegre, é incumbida não só de coordenar a actividade dos sindicatos filiados (então apenas 4 apesar de representarem a maioria dos trabalhadores sindicalizados) mas também de coordenar a luta de todos os trabalhadores do distrito e de alargar a sua implantação.
É já com a coordenação da União que se dá início no distrito ao processo de concretização da Reforma Agrária e se definem as acções em defesa do regime democrático posto em grave perigo em Setembro de 1974 e em Março e Novembro de 1975.
É a partir das instalações na Av. da Liberdade que ocupa desde a fundação em parceria com o MDP/CDE e o Sindicato Agrícola que se avança para a organização nas aldeias e nos locais de trabalho sindicalizando e elegendo delegados sindicais ao mesmo tempo que se apoiam os esforços desenvolvidos para a formação de sindicatos para os sectores onde o fascismo os proibira: na função pública, na administração local e nos professores e se garante a abertura de delegações dos muitos sindicatos entretanto reconquistados.
A União dos Sindicatos do Distrito de Portalegre que se iniciara em 1975 com quatro sindicatos: Agrícolas, Bancários, Corticeiros e Químicos, tinha filiados quando da realização do seu primeiro congresso em 1989, 23 sindicatos e trabalhava regularmente com outros três que apesar de não filiados integravam regularmente todas as iniciativas da União.
Actualmente, a União entretanto rebatizada como União dos Sindicatos do Norte Alentejano, mantém o seu estatuto de CGTP-IN no distrito de Portalegre e continua a garantir a coordenação e direcção do movimento sindical e da luta dos trabalhadores desta região.